segunda-feira, 18 de junho de 2007

(não há título possível...)

Hoje, eu e a Joana* estávamos na biblioteca da escola a ver na internet uns vídeos de dança da Luciana Abreu. A Joana estava animadíssima como sempre, dançava, mandava bocas sobre a Luciana Abreu, que - segundo ela - gostava do bailarinho (do Dança Comigo), ria-se, voltava a rir-se, e eu com ela, claro. Divertidíssimas as duas...

Ao nosso lado, noutro computador, uma jovem professora, com os seus 26 anos (e não é que a idade seja para aqui chamada...), num momento em que a Joana rodopiava à nossa volta, e não nos ouvia (vá lá!), dirigiu-se a mim:

- É hiperactiva, não é? - perguntava-me assim entre a "curiosidade" e "o estar a par dessas coisas".

- Não. - respondi-lhe eu, atónita, mas com um grande sorriso, sempre. - É uma criança feliz!!!


*Nome fictício para uma menina de 9 anos.

9 comentários:

Marta disse...

"Uma menina feliz..." Que sorte, a de também lidares no teu trabalho com pessoas felizes.
Que engraçado, nunca tinha pensado nisso... eu só lido no meu trabalho com pessoas infelizes, nunca poderei dizer, "não, não é borderline, é um homem feliz" ou "não, não está alcoolizado, está feliz"!

Marta disse...

Podias por como título:

"O estigma da psicologia"

"Rótulos..."

(...)

Andreia disse...

sim, na escola querem-se ALUNOS, não CRIANÇAS!!! muito menos FELIZES!!!

haja pachorra... e sorrisos nos lábios que aguentem... sim, porque eu nem vos digo nem vos conto o que me apeteceu dizer-lhe ou mesmo fazer-lhe...

tens razão, Lu, aprendem-se muitas coisas no estágio... uma dela é a engolir sapos... ufff!

Andreia disse...

Martuxa, sim há crianças felizes lá na escola... há muitas, espero que a maioria o seja...

...mas também há muitas crianças tristes...

...crianças vítimas de maus tratos, de abusos sexuais, crianças que vêem os pais traficarem, as mães prostituir-se, crianças que já aprenderam que são burras, que nunca vão aprender, porque lhes ensinaram isso na escola... crianças que têm a rua como sua casa, que vêem pessoas a morrer à sua frente (com uma pistola encostada à cabeça)...

Andreia disse...

Martuxa, nenhum título consegue dar toda a ideia do episódio... foi um momento trágico-cómico assustador, porque eles "andem" aí, os rotuladores implacáveis...

tal como a Lu disse no outro dia, penso que, muitas vezes, o rótulo não ajuda...

o rótulo, como outras coisas, também é uma certeza (ainda que incerta) e representa uma segurança para quem lida com a pessoa rotulada...

neste caso, esta MENINA FELIZ, se tivesse uma professora que a achasse hiperactiva, poderia sofrer consequências graves, nomeadamente, a professora poderia desistir dela, com a desculpa de que ela não pára quieta (o que nem sequer é verdade…) e portanto nunca será capaz de aprender...

mas há outros rótulos semelhantes:

- "é burro, nunca vai aprender",
- "não se interessa, nunca vai aprender",
- "é pobre, nunca vai aprender",
- "não faz os t.p.c., nunca vai aprender",
- "é preto, nunca vai aprender",
- "tem uma família instável, nunca vai aprender"
- "é mal educado, nunca vai aprender",
- "é criativo, nunca vai aprender",
- etc.

mas reparem, nunca (ou quase nunca) surge:

- "as aulas não são do seu interesse",
- "o professor, se calhar, não se esforça por envolvê-lo nas matérias",
- "a escola desvaloriza o meio (cultural, social) desta criança",
- "o professor talvez não entenda o que ele sente",
- "a escola nada diz a esta criança",
- "o professor não se esforça por compreender porque razão ele não aprende",
- "o método pedagógico do professor não é o mais adequado àquela criança",
- etc.

reflexão 1: isto da atribuição causal externa tem muito que se lhe diga...

reflexão 2: é engraçado, para se aprender, há muita coisa que não se pode ser ou ter... hummm... desconfio!!! todas as crianças aprendem coisas fora da escola, não é? mesmo para se ser malandro, é preciso aprender essas manhas... não sei!!! há aqui qualquer coisa que não faz sentido...

Andreia disse...

aqui nos meus delírios estava agora a pensar... já que esta MENINA FELIZ tem algumas dificuldades de aprendizagem, só faltava dizer:

- "é uma MENINA FELIZ, nunca vao aprender"...

Mau Maria!!! Dois pares de estalos, como diria a Lu! :)

Andreia disse...

correcção: *vai

Andreia disse...

em poucas palavras... não gostamos de rótulos, porque não são os rótulos que ajudam, mas a compreensão que conseguimos construir de quem temos à nossa frente... os rótulos podem até ser perigosos!

nessa disse...

Detesto rótulos. Desculpabiliza o professor que deixa de investir no aluno e desculpabiliza também o próprio aluno, pois deixa de ser o responsável pelos seus comportamentos